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Tenho saudades quando sentia uma vontade louca, muito interior, muito minha, de ir passar uns dias a casa dos meus pais, neste tempo da Páscoa.
Partia de Lisboa na quarta-feira e regressava na segunda-feira. Fugia do trânsito e prolongava a minha estadia por terras nortenhas. Era dito e certo que dois dias de férias estavam destinados a esta nossa partida.
Levava comigo não só malas cheias de roupa para suprir as necessidades de nós os quatro, mas também uma magia que só eu conhecia.
Havia um cheiro a primavera que me puxava até lá, que se juntava às tradições que existem nestes dias.
Hoje, mantenho-me pela cidade grande. A guerra fria que existe, silenciosa mas gelada no meu interior, entre os familiares, é a causa fulcral deste meu abandono. Os meus filhos também quase ou nada se ligaram a esse lugar, embora a mais nova sinta um pequeno elo a essas tradições, mas que aos poucos vai desligando esse botão, extinguindo-se a chama da saudade.
Aqui nada tem cheiro a Páscoa, a tradição, a rituais. Aqui não há as procissões; a visita pascal com a reza "Aleluia, Aleluia" e o beijo da cruz; o envelope fechado que o pai preparava, antecipadamente, e que logo era entregue ao acólito, sobrando-nos a curiosidade de quanto dinheiro lá ia dentro; as cavacas; o pão-de-ló de doze ovos caseiros batido lentamente; o cabrito assado no forno de lenha; o judas a arder; as voltinhas pela cidade...
Ficam as minhas memórias enquanto as consigo guardar.
Tudo muda e tudo tem o seu tempo.